domingo, 16 de junho de 2013


SILVA, S. L. Gestão do conhecimento: uma revisão crítica orientada pela abordagem da criação do conhecimento – Revista de Ciência da Informação, Brasília, v.33, n.2, p. 143-151, maio/ago. 2004


O artigo analisado aprofunda as ideias discutidas em um artigo anterior do mesmo autor sobre a gestão do conhecimento. Aponta a importância da tecnologia da informação no acesso e renovação do conhecimento e parte do pressuposto de que o trabalho com o conhecimento advém da contínua conversão entre o conhecimento explícito e tácito (p.143). O autor traz um enfoque sobre o lado operacional da gestão do conhecimento.

 Inicialmente ele versa sobre os parâmetros para a inserção da gestão do conhecimento (GC) na empresa. Após, diferencia o conhecimento em relação a dados e informação, falando a seguir sobre a criação do conhecimento e os facilitadores do trabalho no formato tácito e explícito, bem como sobre a aplicação da tecnologia da informação na GC, finalizando com as suas perspectivas recentes.

Em relação ao primeiro enfoque que são os parâmetros, identificam-se os organizacionais, os de recursos humanos e o de sistemas da informação. Refletindo sobre o seu pensamento (2000), reconhece que mensurar estrategicamente a aprendizagem requer a utilização de um conjunto de diretrizes e recomendações básicas, fortemente inter-relacionadas e válidas em qualquer gestão do conhecimento (p.144).

Ressalta que, embora exista uma extensa literatura que diferencia conhecimento de dado e informação, não existe um consenso entre os conceitos apresentados. Dispondo sobre o pensamento de Tuomi (1999) assevera que os dados são pré-requisitos da informação e esta, do conhecimento. A convergência entre todos os autores é a de que o conhecimento é formado por informação (p.145). O conhecimento possui dois componentes intrinsecamente relacionados: o tácito (subjetivo) e o explícito (que pode ser transferido). É justamente na conversão desses dois componentes que se encontra a essência da abordagem teórica da criação do conhecimento, como releva o autor, existindo quatro modos de conversão: a socialização, externalização, combinação e internalização.

A socialização é a conversão de parte do conhecimento tácito de uma pessoa no conhecimento tácito de outra pessoa (p.145). Ao se converter parte do conhecimento tácito do indivíduo em algum conhecimento explícito, tem-se a externalização. Na combinação converte-se algum tipo de conhecimento explícito gerado por um indivíduo para agregá-lo ao conhecimento explícito da organização e na internalização há conversão de parte do conhecimento explícito da organização em conhecimento tácito do indivíduo (p.146). Eles vão se complementando, por isso estão interligados.

Os principais facilitadores de troca do conhecimento tácito são as redes de trabalho, também denominadas de comunidades práticas, a capacidade criativa, que é motivada pelo ambiente organizacional e a capacidade de aprender, tanto individual quanto organizacional. De Garvin (1993), destaca que uma organização de aprendizagem é aquela em que as pessoas têm habilidade de criar (externalizar), adquirir (internalizar) e disseminar (socializar) conhecimentos (p. 147). Ressalta que refletindo sobre esses conhecimentos, o que é possível por meio de uma aprendizagem inovadora, podem-se modificar comportamentos.

Dentro os facilitadores do conhecimento explícito tem-se a capacidade de construção de lessons learned, que seguem algumas recomendações e o cuidado com as formas de melhor agrupar ou organizar estes conhecimentos. Aqui entram as tecnologias da informação que vêm otimizar a conversão do conhecimento.

O autor aponta que faz sentido a aplicação da tecnologia da informação principalmente no conhecimento explícito, pois ela é fundamental para agrupar esse tipo de formato, bem como a sua externalização e internalização, descentralizando o conhecimento e melhorando o grau de interatividade do usuário, contribuindo com a transmissão do conhecimento (p. 148).

O uso da tecnologia da informação passa por uma grande evolução desde o seu surgimento nos anos 70. Dos ensinamentos de Salerno (1998), o emprego de sistemas de tecnologias da informação deve ser condicionado às definições e escolhas da estrutura organizacional, e não o contrário. Servem elas de apoio. Internalizar e socializar são também conversões importantes na formação da memória organizacional, ressalta o autor.

Voltando ao percurso da tecnologia da informação, a partir dos anos 90, com a internet e intranet são vistos novas modalidades de aplicação da TI, possibilitando inúmeras formas de acesso ao conhecimento explícito, a exemplos de grupos de discussão virtual, treinamento virtual, formação de portais etc.

O autor cita também o sistema EPR (Enterprise Resource Planning), que de acordo com Davenport & Prusak (1998), procuram padronizar e normalizar os diferentes setores e funções, facilitando o compartilhamento de dados, informações e até conhecimentos (p. 149). Todos esses sistemas, de acordo com Silva vêm permitir o gerenciamento dos conteúdos de conhecimento da empresa.

As tecnologias da informação, segundo o autor, juntamente ao trabalho com o conhecimento explícito têm atuado em duas linhas que são interdependentes, no intuito de ampliar seu alcance na gestão do conhecimento. São elas: na tecnologia centrada no indivíduo, cujo foco principal está em facilitar o compartilhamento de interesses e experiências pessoais; e na tecnologia centradas na máquina, que buscam dinamizar o registro e facilitar a externalização, realizando depois a combinação (p.150).

Artigo interessante, de leitura agradável e que busca descrever a importância das tecnologias da informação para a gestão do conhecimento, especificamente em relação à abordagem teórica da criação do conhecimento. Retira-se dessa análise a necessidade de adequação das organizações para que possam promover a sistematização da gestão do conhecimento, que será facilitada, como bem disse o autor, pelas novas tecnologias. Não cabe a ela, ou seja, à organização, inclusive, outra escolha, até para manter-se competitiva, que não seja a de se render aos encantos da implantação coordenada da gestão do conhecimento.

Nadja Christina Silveira Lélis é aluna do Mestrado Profissional em Gestão em Organizações Aprendentes da Universidade Federal da Paraíba – UFPB