sábado, 29 de junho de 2013

RESENHA DO TEXTO GESTÃO DO CONHECIMENTO

SILVA, Sergio Luís da. Gestão do conhecimento: uma visão crítica orientada pela abordagem da criação do conhecimento.  Ciência da Informação, Brasília, v. 33, n. 2, p. 143-151, maio/ago. 2004.

Por Elaine Cristina de Brito Moreira
Mestranda em Gestão em Organizações Aprendentes – MPGOA/UFPB


A Gestão do Conhecimento é um processo de organização e compartilhamento de informações, onde o todo é gerado a partir do entendimento das partes. A criação do conhecimento está na sinergia da organização que evolui em conjunto com as mudanças que vem acontecendo de forma emergente. Para que exista Gestão do Conhecimento a organização tem que está em sintonia a partir dos dados gerando informação, que conseqüentemente gera conhecimento, formando, assim, os conhecimentos tácitos e explícitos.
No texto Gestão do conhecimento, de Silva (2004), o autor faz uma abordagem bastante crítica e reflexiva a respeito da criação do conhecimento, identificando as atividades organizacionais e relacionando a administração científica e as relações humanas. Silva afirma no pensamento de Spencer (1996), que podemos identificar as abordagens teóricas, a sociedade do conhecimento, a aprendizagem organizacional e as competências essenciais na gestão estratégica, diagnosticando o modo como as organizações trabalham com o conhecimento, a fim de desenvolver novos produtos, novos processos e novos arranjos organizacionais de forma flexível, que irão proporcionar vantagens competitivas sustentáveis.
No pensamento de Silva (2004), a vantagem competitiva está nas pessoas e não nos recursos físicos, tornando difícil a imitação da concorrência e às incertezas do ambiente, onde os processos empresariais da organização têm que está em sintonia com suas estratégias.
Quanto aos parâmetros para a inserção da gestão do conhecimento na empresa, o autor enfatiza os processos de negócios que mensuram estrategicamente aprendizagem e conhecimento, avaliando as propostas do capital e o balanced scorecard.
Os indicadores de capacidade da organização para realizar a Gestão do Conhecimento e a aprendizagem organizacional de alto desempenho são os parâmetros organizacionais e parâmetros de sistemas de informação. Assim, a gestão do conhecimento e a aprendizagem organizacional nos processos de negócio estão direcionadas à flexibilização das atividades das áreas e departamentos funcionais da empresa e relacionada à disseminação e incorporação das diretrizes e recomendações básicas que a compõem em suas áreas e departamentos funcionais.
Na diferenciação do conhecimento em relação a dados e informações, Tuomi (1999 apud Silva, 2004), afirma que estas definições estão no seu sentido hierárquico, onde os dados são simples fatos que se tornam informação, se forem combinados em uma estrutura compreensível, ao passo que a informação torna-se conhecimento, se for colocada em um contexto, podendo ser usada para fazer previsões. Ou seja, uma informação gera conhecimento quando um indivíduo consegue ligá-la a outras informações, avaliando-a e entendendo seu significado no interior de um contexto específico, sendo os dados pré-requisitos para a informação, e esta, pré-requisito para o conhecimento. Mas também pode ocorrer da informação emergir somente após existir o conhecimento, compreendendo sua estrutura, e os dados serem percebidos somente após a informação, permitindo verificar a existência dos fatos.
Podemos então dizer que conhecimento é formado por informação, que pode ser expressa, verbalizada, e relativamente estável ou estática, em completo relacionamento com uma característica mais subjetiva e não palpável, que está na mente das pessoas e é relativamente instável ou dinâmica, e que envolve experiência, contexto, interpretação e reflexão (Polany, 1966; Nonaka & Takeuchi, 1997 apud Silva, 2004). Segundo os autores citados anteriormente, existem dois tipos de conhecimentos que estão intrinsecamente relacionados, que são o conhecimento tácito (visão do todo) e o conhecimento explícito (sistematicamente analisado, desenvolvido a partir do conhecimento tácito).
A Criação do conhecimento, formatos e conversões, só pode acontecer se houver espaços entre o conhecimento tácito convertido em conhecimento explícito, formando um núcleo central das abordagens da gestão do conhecimento.
A Socialização parte do conhecimento tácito de uma pessoa para outra, ligados a cultura organizacional e ao trabalho em equipe, sendo o conhecimento compartilhado, considerando que todos são mestres e todos são aprendizes e suas experiências são transferidas e também compartilhadas.
Quanto a Externalização, a conversão parte do conhecimento tácito do individuo em algum tipo de conhecimento explícito. Normalmente acontece por meio de representação simbólica do conhecimento tácito, externalizando a linguagem figurada do conhecimento tácito, podendo ser então o registro do conhecimento da pessoa feito por ela mesma.
Na Combinação, o conhecimento é agregado ao explícito da organização dentro de um processamento de informação de forma sistemática.
Na Internalização, existe a conversão do conhecimento explícito da empresa para o conhecimento tácito do indivíduo, dentro de uma aprendizagem organizacional, compreendendo o aprendizado pessoal a partir da consulta dos registros de conhecimentos. Podemos também perceber, a partir deste contexto, que a Tecnologia da Informação está também ligada direta e indiretamente a Gestão do Conhecimento.
Os facilitadores do trabalho com o formato tácito do conhecimento ligam pessoas experientes e preparadas para atuar em grupo, interagindo por meio da troca de conhecimentos tácitos, envolvendo pessoas internas e externas da empresa na troca de experiências e busca de novas abordagens, contribuindo para a simetria do grupo. Considera-se facilitadores as redes de trabalhos, a capacidade criativa e a capacidade de inovação, que estão ligadas aos talentos individuais e motivação fornecida pelo ambiente organizacional e o estímulo ao compartilhamento de experiências individuais no ambiente em que está inserido. Ou seja, é a capacidade de criar, adquirir e disseminar conhecimentos tornando o ambiente organizacional em constante mutação e inovação.
Os facilitadores do trabalho com o formato explícito do conhecimento estão relacionados à memória organizacional ou corporativa, contando com idéias criativas e analisando as falhas e os sucessos da empresa. Está também ligada a capacidade de construção de lessons learned (conhecimento explícito) registrando vivências, erros levantados e soluções adotadas, possibilitando assim, um melhor agrupamento de organização de conhecimentos.
O autor considera os recursos de Tecnologia da Informação como um otimizador da externalização, internalização e combinação de conhecimento explícito.
Com a aplicação da tecnologia da informação na gestão do conhecimento, percebe-se, segundo Silva (2004), que a TI não resolve todos os problemas, mas parte deles, sendo fundamental para combinação dos conhecimentos explícitos. Ela também não contribui significativamente com o formato tácito, o máximo que pode fazer é socializar pessoas a partir da conexão, mas facilita a conversão do conhecimento quando o formato tácito está em equilíbrio com o explícito. A TI também melhora o grau de interatividade do usuário com os registros do conhecimento, sendo efetivamente útil para a Gestão do Conhecimento quando houver uma interatividade entre as pessoas.
As Tecnologias da informação são pioneiras no trabalho com o conhecimento, pois seus sistemas informacionais apóiam como facilitadores, onde a pessoa registra conhecimento explicito no máximo possível do conhecimento tácito, agrupando e processando esses registros de forma efetiva junto ao conhecimento explicito da organização. A internalização é em parte ajudada pela TI e é influenciada pelas redes e comunidades de prática. A socialização independe da TI, a não ser que haja um trabalho de forma pessoal, seja em grupos formais ou comunidades informais. Ambas são conversões importantes para a formação da memória organizacional.
A evolução no trabalho com o conhecimento através dos recursos da internet se concentra através das principais aplicações de TI para a Gestão do Conhecimento, como por exemplo, o gerenciamento de documentos eletrônicos, ferramentas de navegação inteligente na internet entre outros, que são manuseados e acessados por grupos na organização, gerando perfis dentro da empresa e externalizando experiências internas e externas, o que pode gerar redução de custos para a empresa em treinamentos virtuais e rapidez no compartilhamento de informações e opiniões através da comunicação on line em diferentes lugares e ao mesmo tempo. Facilita a integração dos usuários internos e externos através de sites e portais da empresa na intranet/internet. No pensamento de Scott (1998 apud Silva, 2004), a intranet/internet é um caminho para a criação do conhecimento por sua autonomia, redundância, caos criativo e variedade, porque acompanha o avanço acelerado de novas informações gerando novos conhecimentos tácitos e explícitos.
As perspectivas recentes e síntese do uso da tecnologia da informação para a gestão do conhecimento busca integrar vários setores da empresa através de ERP’s padronizando e normalizando setores e funções, o que facilita o compartilhamento de dados, informações e conhecimentos. Esses sistemas têm grande impacto com a Gestão do Conhecimento, sendo de fundamental importância na aprendizagem organizacional, onde cada um também passa a conhecer os processos, os papeis e funções da equipe dentro da empresa.
A TI é fundamental na gestão do conhecimento explícito em duas linhas de atuação: as tecnologias centradas no indivíduo (compartilhamento de interesses e experiências pessoais) e as tecnologias centradas na máquina (sistemas que buscam dinamizar registros a partir do conhecimento das pessoas)
Portanto, de acordo com as considerações do autor, podemos perceber que para aplicar gestão do conhecimento nas empresas é necessário integrar os processos empresariais da organização e suas estratégias competitivas, envolvendo pessoas, redes de informação e tecnologia da informação. O papel das empresas é mudar a cultura organizacional conscientizando a equipe da importância da aprendizagem contínua e do conhecimento tácito dos processos, dos papeis, das funções e trabalho em conjunto, assim como a missão e visão da empresa para que cresçam mutuamente. Para que exista sucesso empresarial e vantagem competitiva, é importante entender que as pessoas devem ser consideradas como peça chave para o desenvolvimento da organização na criação do conhecimento e compartilhamento de informações.