RESENHA DO TEXTO GESTÃO DO CONHECIMENTO
SILVA, Sergio Luís da. Gestão do
conhecimento: uma visão crítica orientada pela abordagem da criação do
conhecimento. Ciência da Informação, Brasília, v. 33, n. 2, p. 143-151, maio/ago.
2004.
Por Elaine Cristina de Brito Moreira
Mestranda em Gestão em Organizações Aprendentes
– MPGOA/UFPB
A Gestão do Conhecimento é um processo de organização e compartilhamento
de informações, onde o todo é gerado a partir do entendimento das partes. A
criação do conhecimento está na sinergia da organização que evolui em conjunto
com as mudanças que vem acontecendo de forma emergente. Para que exista Gestão
do Conhecimento a organização tem que está em sintonia a partir dos dados gerando
informação, que conseqüentemente gera conhecimento, formando, assim, os
conhecimentos tácitos e explícitos.
No texto Gestão do conhecimento,
de Silva (2004), o autor faz uma abordagem bastante crítica e reflexiva a
respeito da criação do conhecimento, identificando as atividades
organizacionais e relacionando a administração científica e as relações humanas.
Silva afirma no pensamento de Spencer (1996), que podemos identificar as
abordagens teóricas, a sociedade do conhecimento, a aprendizagem organizacional
e as competências essenciais na gestão estratégica, diagnosticando o modo como
as organizações trabalham com o conhecimento, a fim de desenvolver novos
produtos, novos processos e novos arranjos organizacionais de forma flexível, que
irão proporcionar vantagens competitivas sustentáveis.
No pensamento de Silva (2004), a vantagem competitiva está nas pessoas e
não nos recursos físicos, tornando difícil a imitação da concorrência e às
incertezas do ambiente, onde os processos empresariais da organização têm que
está em sintonia com suas estratégias.
Quanto aos parâmetros para a
inserção da gestão do conhecimento na empresa, o autor enfatiza os
processos de negócios que mensuram estrategicamente aprendizagem e
conhecimento, avaliando as propostas do capital e o balanced scorecard.
Os indicadores de capacidade da organização para realizar a Gestão do
Conhecimento e a aprendizagem organizacional de alto desempenho são os parâmetros
organizacionais e parâmetros de sistemas de informação. Assim, a gestão do
conhecimento e a aprendizagem organizacional nos processos de negócio estão direcionadas
à flexibilização das atividades das áreas e departamentos funcionais da empresa
e relacionada à disseminação e incorporação das diretrizes e recomendações
básicas que a compõem em suas áreas e departamentos funcionais.
Na diferenciação do conhecimento em
relação a dados e informações, Tuomi (1999 apud Silva, 2004), afirma que
estas definições estão no seu sentido hierárquico, onde os dados são simples
fatos que se tornam informação, se forem combinados em uma estrutura
compreensível, ao passo que a informação torna-se conhecimento, se for colocada
em um contexto, podendo ser usada para fazer previsões. Ou seja, uma informação
gera conhecimento quando um indivíduo consegue ligá-la a outras informações, avaliando-a
e entendendo seu significado no interior de um contexto específico, sendo os
dados pré-requisitos para a informação, e esta, pré-requisito para o
conhecimento. Mas também pode ocorrer da informação emergir somente após
existir o conhecimento, compreendendo sua estrutura, e os dados serem
percebidos somente após a informação, permitindo verificar a existência dos
fatos.
Podemos então dizer que conhecimento é formado por informação, que pode
ser expressa, verbalizada, e relativamente estável ou estática, em completo
relacionamento com uma característica mais subjetiva e não palpável, que está
na mente das pessoas e é relativamente instável ou dinâmica, e que envolve
experiência, contexto, interpretação e reflexão (Polany, 1966; Nonaka &
Takeuchi, 1997 apud Silva, 2004). Segundo os autores citados anteriormente,
existem dois tipos de conhecimentos que estão intrinsecamente relacionados, que
são o conhecimento tácito (visão do
todo) e o conhecimento explícito
(sistematicamente analisado, desenvolvido a partir do conhecimento tácito).
A Criação do conhecimento, formatos
e conversões, só pode acontecer se houver espaços entre o conhecimento
tácito convertido em conhecimento explícito, formando um núcleo central das
abordagens da gestão do conhecimento.
A Socialização parte do
conhecimento tácito de uma pessoa para outra, ligados a cultura organizacional
e ao trabalho em equipe, sendo o conhecimento compartilhado, considerando que
todos são mestres e todos são aprendizes e suas experiências são transferidas e
também compartilhadas.
Quanto a Externalização, a
conversão parte do conhecimento tácito do individuo em algum tipo de
conhecimento explícito. Normalmente acontece por meio de representação
simbólica do conhecimento tácito, externalizando a linguagem figurada do
conhecimento tácito, podendo ser então o registro do conhecimento da pessoa
feito por ela mesma.
Na Combinação, o conhecimento é
agregado ao explícito da organização dentro de um processamento de informação
de forma sistemática.
Na Internalização, existe a conversão
do conhecimento explícito da empresa para o conhecimento tácito do indivíduo,
dentro de uma aprendizagem organizacional, compreendendo o aprendizado pessoal
a partir da consulta dos registros de conhecimentos. Podemos também perceber, a
partir deste contexto, que a Tecnologia
da Informação está também ligada direta e indiretamente a Gestão do Conhecimento.
Os facilitadores do trabalho com o
formato tácito do conhecimento ligam pessoas experientes e preparadas para
atuar em grupo, interagindo por meio da troca de conhecimentos tácitos,
envolvendo pessoas internas e externas da empresa na troca de experiências e
busca de novas abordagens, contribuindo para a simetria do grupo. Considera-se
facilitadores as redes de trabalhos, a capacidade criativa e a capacidade de
inovação, que estão ligadas aos talentos individuais e motivação fornecida pelo
ambiente organizacional e o estímulo ao compartilhamento de experiências
individuais no ambiente em que está inserido. Ou seja, é a capacidade de criar,
adquirir e disseminar conhecimentos tornando o ambiente organizacional em
constante mutação e inovação.
Os facilitadores do trabalho com o
formato explícito do conhecimento estão relacionados à memória
organizacional ou corporativa, contando com idéias criativas e analisando as
falhas e os sucessos da empresa. Está também ligada a capacidade de construção
de lessons learned (conhecimento
explícito) registrando vivências, erros levantados e soluções adotadas, possibilitando
assim, um melhor agrupamento de organização de conhecimentos.
O autor considera os recursos de Tecnologia da Informação como um otimizador
da externalização, internalização e combinação de conhecimento explícito.
Com a aplicação da tecnologia da
informação na gestão do conhecimento, percebe-se, segundo Silva (2004), que
a TI não resolve todos os problemas, mas parte deles, sendo fundamental para
combinação dos conhecimentos explícitos. Ela também não contribui
significativamente com o formato tácito, o máximo que pode fazer é socializar
pessoas a partir da conexão, mas facilita a conversão do conhecimento quando o
formato tácito está em equilíbrio com o explícito. A TI também melhora o grau
de interatividade do usuário com os registros do conhecimento, sendo
efetivamente útil para a Gestão do Conhecimento quando houver uma
interatividade entre as pessoas.
As Tecnologias da informação são
pioneiras no trabalho com o conhecimento, pois seus sistemas informacionais
apóiam como facilitadores, onde a pessoa registra conhecimento explicito no
máximo possível do conhecimento tácito, agrupando e processando esses registros
de forma efetiva junto ao conhecimento explicito da organização. A
internalização é em parte ajudada pela TI e é influenciada pelas redes e
comunidades de prática. A socialização independe da TI, a não ser que haja um
trabalho de forma pessoal, seja em grupos formais ou comunidades informais.
Ambas são conversões importantes para a formação da memória organizacional.
A evolução no trabalho com o
conhecimento através dos recursos da internet se concentra através das
principais aplicações de TI para a Gestão do Conhecimento, como por exemplo, o
gerenciamento de documentos eletrônicos, ferramentas de navegação inteligente
na internet entre outros, que são manuseados e acessados por grupos na
organização, gerando perfis dentro da empresa e externalizando experiências
internas e externas, o que pode gerar redução de custos para a empresa em
treinamentos virtuais e rapidez no compartilhamento de informações e opiniões
através da comunicação on line em
diferentes lugares e ao mesmo tempo. Facilita a integração dos usuários
internos e externos através de sites e portais da empresa na intranet/internet.
No pensamento de Scott (1998 apud Silva, 2004), a intranet/internet é um
caminho para a criação do conhecimento por sua autonomia, redundância, caos
criativo e variedade, porque acompanha o avanço acelerado de novas informações
gerando novos conhecimentos tácitos e explícitos.
As perspectivas recentes e síntese
do uso da tecnologia da informação para a gestão do conhecimento busca
integrar vários setores da empresa através de ERP’s padronizando e normalizando
setores e funções, o que facilita o compartilhamento de dados, informações e
conhecimentos. Esses sistemas têm grande impacto com a Gestão do Conhecimento,
sendo de fundamental importância na aprendizagem organizacional, onde cada um
também passa a conhecer os processos, os papeis e funções da equipe dentro da
empresa.
A TI é fundamental na gestão do conhecimento explícito em duas linhas de
atuação: as tecnologias centradas no indivíduo (compartilhamento de
interesses e experiências pessoais) e as tecnologias centradas na máquina
(sistemas que buscam dinamizar registros a partir do conhecimento das pessoas)
Portanto, de acordo com as considerações do autor, podemos perceber que
para aplicar gestão do conhecimento nas empresas é necessário integrar os
processos empresariais da organização e suas estratégias competitivas,
envolvendo pessoas, redes de informação e tecnologia da informação. O papel das
empresas é mudar a cultura organizacional conscientizando a equipe da
importância da aprendizagem contínua e do conhecimento tácito dos processos,
dos papeis, das funções e trabalho em conjunto, assim como a missão e visão da
empresa para que cresçam mutuamente. Para que exista sucesso empresarial e
vantagem competitiva, é importante entender que as pessoas devem ser consideradas
como peça chave para o desenvolvimento da organização na criação do
conhecimento e compartilhamento de informações.